Sunday, November 26, 2006

ECS 7 Marx e Engels









Marx, Karl Heinrich (Trier, 5 de maio de 1818 - Londres, 14 de março de 1883.) Cientista social, historiador e revolucionário, Marx foi certamente o pensador socialista que maior influência exerceu sobre o pensamento filosófico e social e sobre a própria história da humanidade. Embora em grande pane ignorado pelos estudiosos acadêmicos de sua época, o conjunto de idéias sociais, econômicas e políticas que desenvolveu conquistou, de forma cada vez mais rápida, a aceitação do movimento socialista após sua morte, em 1883. Quase metade da população do mundo vive hoje sob regimes que se pretendem marxistas. Esse mesmo sucesso, porém, significou que as idéias originais de Marx foram, com freqüência, obscurecidas pelas tentativas de adaptar seu significado a circunstâncias políticas as mais variadas. Além disso, como decorrência da publicação tardia de muitos de seus escritos, só em época relativamente recente surgiu a oportunidade de uma apreciação justa da sua estatura intelectual.Marx nasceu em uma família de classe média, de situação confortável, em Trier, às margens do rio Mosela, na Alemanha. Descendia de uma longa linhagem de rabinos, tanto da parte materna quanto paterna, e seu pai, embora fosse intelectualmente um racionalista de formação tipicamente iluminista, que conhecia Voltaire e Lessing de cor, só concordara em ser batizado como protestante para não se ver privado de seu trabalho como um dos mais conceituados advogados de Trier. Aos 17 anos, Marx matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Bonn e mostrou-se sensível ao romantismo que ali predominava: havia ficado noivo pouco antes de Jenny von Westphalen, filha do barão von Westphalen, figura destacada da sociedade de Trier e que havia despertado em Marx o interesse pela literatura romântica e pelo pensamento político de Saint-Simon. No ano seguinte, o pai de Marx mandou-o para a Universidade de Berlim, maior è mais seria, onde ele passou os quatro anos seguintes e abandonou o romantismo em favor do hegelianismo que predominava na capital naquela época.
Marx participou ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Esse grupo, que contava com figuras como Bauer e Strauss, estava produzindo uma crítica radical do cristianismo e, implicitamente, uma oposição liberal à autocracia prussiana. Quando o acesso à carreira universitária lhe foi vedado pelo governo prussiano, Marx transferiu-se para o jornalismo e, em outubro de 1842, foi dirigir, em Colônia, a influente Rheinische Zeitung (Gazeta Renana), jornal liberal apoiado por industriais renanos. Os incisivos artigos de Marx, particularmente sobre questões econômicas, levaram o governo a fechar o jornal, e o seu diretor resolveu emigrar para a França.
Ao chegar a Paris em fins de 1843 Marx estabeleceu rapidamente contato com grupos organizados de trabalhadores alemães que haviam emigrado e com as várias seitas de socialistas franceses. Também dirigiu os Deutsch-französische Jahrbücher (Anais franco-alemães), publicação de vida efêmera, que pretendia ser uma ponte entre o nascente socialismo francês e as idéias dos hegelianos "radicais alemães. Durante os primeiros meses de sua permanência em Paris, Marx tomou-se logo comunista convicto e começou a registrar suas idéias e novas concepções em uma série de escritos que mais tarde ficariam conhecidos como Oekonomisch-philosophischen Manuskripte (Manuscritos econômicos e filosóficos), mas que permaneceram inéditos até cerca 'de 1930. Nestes manuscritos, Marx esboçava uma concepção humanista do comunismo, influenciada pela filosofia de Feuerbach e baseada num contraste entre a natureza alienada do trabalho no capitalismo e uma sociedade comunista na qual os seres humanos desenvolveriam livremente sua natureza em produção cooperativa. Foi também em Paris que Marx iniciou a colaboração com Friedrich Engels que durada toda sua vida.
Em fins de 1844, Marx foi expulso da capital francesa e transferiu-se (com Engels) para Bruxelas, onde passou os três anos seguintes, tendo nesse período visitado a Inglaterra, que era então o pais industrialmente mais adiantado do mundo e onde a família de Engels tinha interesses na fiação de algodão em Manchester. Em Bruxelas, Marx dedicou-se a um estudo intensivo
da história e criou a teoria que veio a ser conhecida como a concepção materialista da história. Essa concepção foi exposta num trabalho (também só publicado postumamente), escrito em colaboração com Engels e conhecido como Die Deutsche Ideologie (A ideologia alemã, cuja tese básica é a de que "a natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua posição". Marx esboça, nessa obra, a história dos vários modos de produção, prevendo o colapso do modo de produção vigente - o capitalista - e sua substituição pelo comunismo. Ao mesmo tempo em que escrevia essa obra teórica, Marx participou intensamente da atividade política, polemizando, em Misère de la Philosophie (Miséria da filosofia), contra o socialismo de
Proudhon, autor de Philosophie de la misère (Filosofia da miséria), que considerava idealista, e ingressando na Liga Comunista, organização de trabalhadores alemães emigrados sediada em Londres da qual se tornou, juntamente com Engels, o teórico principal. Na conferência da Liga realizada em Londres em fins de 1847, Marx e Engels receberam a incumbência de escrever um manifesto comunista que fosse a expressão mais sucinta das concepções da organização. Pouco depois que Das Kommunistische Manifest (Manifesto comunista ) foi publicado em 1848, uma onda de revoluções varreu a Europa.
Em princípios de 1848, Marx transferiu-se novamente para Paris, onde a revolução eclodira primeiro, e em seguida para a Alemanha, onde fundou, de novo em Colônia, o periódico Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana). O jornal, que teve grande influência, sustentava uma linha democrática radical contra a autocracia prussiana, e Marx dedicou suas principais energias à sua direção, já que a Liga Comunista havia sido praticamente dissolvidas. Com a onda revolucionária, porém, o jornal de Marx froi proibido e ele buscou asilo em Londres, em maio de 1849, para começar a "longa e insone noite de exílio" que deveria durar o resto de sua vida.
Ao fixar-se em Londres, Marx mostrava-se otimista em relação à iminência de uma nova onda revolucionária na Europa: voltou a participar de uma liga Comunista renovada e escreveu dois extensos folhetos sobre a revolução de 1848 na França, e suas conseqüências, intitulados Die Klassenkämpfe in Frankreich 1848-1850 (As lutas de classe na França de 1848 a 1850) e Der Achtzehnt Brumaire des Löuis Bonaparte (O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte). Convenceu-se, porém, em pouco tempo de que "uma nova revolução só era possível em conseqüência de uma nova case" e dedicou-se ao estudo da economia política, com o propósito de determinar as causas e condições dessa crise.
Durante a primeira metade da década de 1850, a família Marx viveu num apartamento de três peças no bairro de Soho, em Londres, em condições de grande pobreza. Ao chegar a Londres, a família já tinha quatro filhos, e dois outros nasceram pouco depois. Destes, apenas três meninas sobreviveram ao período do Soho. A principal fonte de renda de Marx nessa época (e posteriormente) era Engels, que tinha bons rendimentos com o negócio de algodão de seu pai em Manchester. Essa renda era suplementada por artigos semanais que Marx escrevia, como correspondente estrangeiro, para o jornal norte-americano New York Daily Tribune. Heranças recebidas em fins da década de 1850 e princípios da década de 1860 tornaram um pouco melhor a situação financeira da família de Marx, mas só a partir de 1869 ele pôde dispor de uma renda suficiente e constante, que lhe foi assegurada por Engels.
Não é de surpreender que a importante produção teórica de Marx sobre economia política tenha feito progressos lentos. Em 1857-1858, ele tinha já redigido um gigantesco manuscrito de 800 páginas, esboço inicial de uma obra em que pretendia ocupar-se do capital, da propriedade agrária, do trabalho assalariado, do Estado, do comércio exterior e do mercado mundial. Esse manuscrito, conhecido como Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie (Esboços da crítica da economia política), só foi publicado em 1941. No início da década de 1860, Marx interrompeu seu trabalho para escrever três grossos volumes intitulados Theorien über den Mehrwert (Teorias da Mais-Valia), em que examinava criticamente o pensamento de seus antecessores na reflexão teórica sobre a economia política, particularmente Adam Smith e David Ricardo. Só em 1867 pode Marx publicar os primeiros resultados de seu trabalho no primeiro livro de Das Kapital (O Capital), dedicado ao estudo do processo capitalista de produção. Nele, desenvolveu sua versão da teoria do Valor trabalho e suas concepções da Mais-Valia e da Exploração, a qual acabada por levar, por efeito da TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO, o colapso do capitalismo . O segundo e o terceiro livros de O Capital estavam em grande parte inacabados na década de 1860, e Marx trabalhou neles pelo resto de sua vida. Foram publicados postumamente por Engels.
Uma das razões por que Marx levou tanto tempo para escrever O Capital foram o grande tempo e a energia que dedicou à Primeira Internacional, para cujo Conselho Geral foi eleito quando de sua fundação em 1864. Marx atuou de maneira incansável particularmente na preparação dos congressos anuais da Internacional a na liderança da luta contra a ala anarquista, chefiada por Bakunin. Embora tivesse vencido a disputa, a transferência da sede do Conselho Geral de Londres para Nova York, em 1872, que apoiou, levou ao rápido declínio da Internacional. O acontecimento político mais importante durante a existência da Internacional foi a Comuna da Paris de 1871, quando os cidadãos da capital, na esteira da guerra franco-prussiana, rebelaram-se contra seu governo e tomaram a cidade por um período de dois meses. Sobre a sangrenta repressão dessa revolta, Marx escreveu um dos seus mais famosos folhetos, Der Burgerkrieg in Frankreich (A guerra civil em França), defesa entusiasta das atividades e objetivos da Comuna.
Na última década de sua vida, a saúde de Marx entrou em acentuado declínio, e ele tornou-se incapaz do esforço continuado de síntese criativa que havia caracterizado, de maneira tão evidente, sua obra até então. Conseguiu, apesar disso, fazer comentários substanciais sobre a política contemporânea, em especial sobre a Alemanha e a Rússia. Quanto à primeira, opôsse, em sua Kritik des Gothaer Programms (Crítica do Programa de Gotha), à tendência de seus seguidores Wilhelm Liebknecht e August Bebel a fazer concessões ao socialismo de Estado de Ferdinand Lassalle, no interesse de um partido socialista unificado. Na Rússia, em correspondência com Vera Zassulitch, previu a possibilidade de que o país saltasse a fase capitalista de desenvolvimento e edificasse o comunismo com base na propriedade comum da terra, característica do mir das aldeias russas. Marx via-se, porém, cada vez mais acometido por doenças e viajava regularmente para estações balnearias na Europa e até mesmo na Argélia, em busca de recuperação. As mortes de sua filha mais velha e de sua mulher ensombreceram os últimos anos de sua vida.
A contribuição de Marx para nossa compreensão da sociedade foi imensa. Seu pensamento não é o sistema abrangente desenvolvido por alguns de seus seguidores sob o nome de MATERIALISMO DIALÉTICO. A própria natureza dialética da sua abordagem dá a esse pensamento um caráter experimental e aberto. Além disso, registra-se com freqüência uma tensão entre o Marx ativista político e o Marx estudioso de economia política. Muitas de suas previsões sobre o futuro do movimento revolucionário não se confirmaram até agora. Mas a ênfase que atribuiu ao fator econômico na sociedade e sua análise das classes sociais tiveram, ambas, enorme influência sobre a história e a sociologia.